quarta-feira, 16 de junho de 2010

"Minha Casa" dobra valor de terrenos em periferias

Construções ganham impulso com programa e alta da renda e do crédito

Para se adequarem aos valores do Minha Casa, construtoras procuram áreas afastadas e de grandes proporções


PEDRO SOARES
DO RIO - Folha SP


Programa federal de habitação popular, o Minha Casa, Minha Vida acirrou a disputa de construtoras por terrenos em periferias e fez até dobrar os preços em áreas no entorno de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília e Fortaleza.
Segundo Daniel Ruman, presidente da construtora Bairro Novo (braço popular da Odebrecht), há três anos a empreiteira comprava terrenos nessas regiões a R$ 10 o metro quadrado. Hoje, não saem por menos de R$ 20.
"Não havia concorrência nem interesse por esses terrenos. Agora, existe", afirma.
Outras regiões se valorizaram ainda mais, diz, mas elas nem sequer são olhadas pela Bairro Novo. É o caso de São Paulo, onde Ruman diz ser impossível comprar terrenos por menos de R$ 20 o m2.
"Nosso modelo de negócio só é rentável até esse limite."
A Bairro Novo é a maior empreendedora do Minha Casa, Minha Vida, programa que concede subsídios para compra de imóvel à baixa renda (até seis salários mínimos) e condições facilitadas de financiamento pela Caixa Econômica Federal.
A construtora só incorpora terrenos com ao menos 200 mil metros quadrados para a construção de 2.500 unidades, em média.
"Por isso temos de ir para regiões mais afastadas. Mesmo nas periferias do Rio e de São Paulo, não achamos nada desse tamanho nem pelo preço que queremos."
Segundo Rogério Chor, presidente da Ademi (Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário), os terrenos no subúrbio carioca já valorizaram 20% desde 2006, quando começou a retomada das construções na região.
Em São Paulo, o preço dos imóveis prontos subiu, em média, 27% em dois anos.

RENDA
As construções nas periferias e nas cidades do entorno das capitais, diz Chor, tiveram um primeiro impulso com a alta da renda -que fez renascer uma classe média baixa emergente- e a ampliação do crédito imobiliário dos bancos privados.
A tendência, porém, ganhou ainda mais fôlego com o Minha Casa, Minha Vida.
A julgar pelo avanço de 51% na concessão de crédito à habitação em abril, ainda há muito espaço para a expansão de lançamentos imobiliários e a consequente valorização dos terrenos.
Para Marco Adnet, diretor da Rossi, há "uma clara valorização" de áreas nos subúrbios, movimento que ganhou força com o programa federal de habitação.

PADRONIZAÇÃO
Segundo Alexandre Calazans, da Living (braço popular da Cyrela), os empreendimentos do programa só são viáveis com construções de edifícios padronizados (o que permite custo menor) e em grandes terrenos.
"O retorno nessas construções é menor, por isso é preciso ter volume", diz Chor.
Para Romário Fonseca, gerente da corretora Lopes, o programa federal atrai moradores de áreas invadidas e com posse irregular da terra.
"Começam a surgir grandes empreendimentos às margens de favelas. Com o subsídio do programa, elas podem sonhar em sair das comunidades."

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