sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Crédito imobiliário vai superar R$ 76 bilhões

Ernani Fagundes e Maurício Godoi
SÃO PAULO - O crédito imobiliário com recursos da poupança e do FGTS deve alcançar R$ 76 bilhões em 2010. "Essa nova previsão é bastante realista com o cenário de crescimento do setor imobiliário", declarou o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Luís Antônio França, durante evento do setor realizado em São Paulo ontem.

"No primeiro semestre foram realizados R$ 23,8 bilhões com poupança e R$ 10,9 bilhões com recursos do FGTS, e projetamos mais R$ 33,2 bilhões do SBPE e outros R$ 8,1 bilhões do FGTS para o segundo semestre deste ano", calculou França.

"O fundo de garantia é o grande motor do programa 'Minha Casa Minha Vida', mas essa política de governo precisa se tornar uma política de Estado", sugeriu o vice-presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais (Secovi), Flávio Prando.

Prando apontou que o crescimento do setor está relacionado com o crédito imobiliário acessível para a classe C. "Num financiamento de R$ 100 mil reais, a prestação de cerca de R$ 1,05 mil se reduziu para uma faixa entre R$ 650 e R$ 680, exigindo uma renda atual de R$ 2,5 mil, menor que os R$ 3,7 mil exigidos anteriormente", detalhou Prando.

De acordo com o VP do Secovi, o futuro do mercado é se popularizar e há uma sólida demanda por novas habitações por um longo período. "É nas classes populares que está a massa da demanda futura", apontou Prando.

Mas os representantes do setor estão preocupados com a capacidade de financiamento dos instrumentos tradicionais, a poupança e o FGTS.

"Os bancos terão de buscar alternativas. A demanda por imóveis cresce em ritmo maior que os recursos dos poupadores, e mesmo com a geração de 2 milhões de empregos formais por ano, os recursos do FGTS são limitados", alerta o presidente da Ordem dos Economistas do Brasil (OEB), Francisco da Silva Coelho.

O presidente da OEB sugere o desenvolvimento de fontes alternativas para o financiamento imobiliário nos próximos anos.

"A securitização pode ser um caminho, assim como o desenvolvimento de fundos imobiliários", aponta Coelho.

"O Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) é o funding do futuro", projeta Prando, do Secovi. "Esse é um grande tema a ser discutido, pois a poupança cresce a um ritmo de 18% ao ano, está em R$ 270 bilhões, mas o setor imobiliário vai precisar de R$ 520 bilhões em 2014", calcula França.

O presidente da Abecip sugere que além do CRI, o Brasil possa contar com o lançamento de covered bonds. "Em setembro vamos conversar com a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] sobre esse instrumento de financiamento que é comum na Europa, e tentar levantar entraves da legislação", afirmou França.

De acordo com ele, os covered bonds são utilizados em países como Alemanha, Reino Unido, Espanha e Dinamarca.

Mas enquanto essa novidade não é regulamentada, o mercado brasileiro procura desenvolver as fontes já disponíveis. "O mercado de CRI, Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Cédulas de Crédito Imobiliário (CCI) deve atingir R$ 7 bilhões nesse ano", projeta Fábio Nogueira, da securitizadora Brazilian Mortgages.

"A securitização está com o arcabouço legal pronto e vai crescer, pois fundos de pensão e seguradoras ainda não apareceram nesse mercado", diz Nogueira.

O executivo informa que a emissão de CRI atingiu quase R$ 3 bilhões no primeiro semestre. Ele tem razão, os números oficiais apontam a seguinte proporção dos R$ 2,8 bilhões emitidos até 20 de julho: Cibrasec com R$ 215,7 milhões (8%); Brazilian Securities com R$ 1,006 bilhão (36%); RB Capital com R$ 961,62 milhões (34%); BRC com R$ 173 milhões (6%) e outras securitizadoras com R$ 443,84 milhões (16%).

Fernando Brasileiro da Cibrasec comparou o potencial do mercado nacional de securitização com outros países. "Nos Estados Unidos é 62,7%, no Chile 12,8%, no México 7,9% e no Brasil só agora alcançamos 2,3%, ou seja há muito potencial", apontou.

Mas Willian Charles Handorf do The Federal Home Loan Bank of Atlanta alertou: "Não cometam o erro do mercado americano, dar 110% de crédito para a especulação imobiliária".

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