quinta-feira, 12 de março de 2009

Todos à Espera do Pacote da Habitação

Gazeta Mercantil/Relatorio - Pág. 1
Natália Flach

Como já era esperado, o crescimento da economia brasileira no quarto trimestre de 2008 foi menor do que o do terceiro trimestre. Mesmo assim, o Produto Interno Bruto (PIB) fechou o período com uma expansão acumulada de 5,1%. "O resultado veio ao encontro do que se esperava", afirma Ana Maria Castelo, consultora da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Agora, economistas, consultores e empresários mudam o foco da análise e se debruçam sobre as possíveis projeções para este ano.
Sérgio Watanabe, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), diz que ainda tem esperanças de que a construção civil - que cresceu 8% em 2008, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na última terça-feira - consiga obter resultados positivos, mas não tão expressivos quanto os dos últimos 12 meses. "A construção vinha até o terceiro trimestre com crescimento de 11,7%. A atividade econômica de dezembro é da ordem de 2% e esse número carrega a atividade em 2009", afirma.
Watanabe é um dos palestrantes do workshop "Panorama da Construção Civil em 2009" que está sendo realizado hoje pelo Sinduscon-SP, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele acredita que, em um cenário mais pessimista, o PIB da construção ficará em torno de 3,5%. Já se a crise for uma "marolinha", pode chegar a 4,7%. "O problema é que depois de cinco meses de turbulência financeira pode-se perceber que estamos nos encaminhando para um cenário mais desfavorável", analisa.
A solução para reverter esse quadro está sendo anunciada há meses: o pacote econômico do governo federal. "É um grande incentivo para a economia e para o setor", afirma Watanabe. Mas ele ressalta a importância de ser claramente definido o lugar de onde partirão os recursos para financiar ou subsidiar a compra da casa própria, além da necessidade indispensável do fundo garantidor.
Outro ponto que deve ser levado em conta é a articulação entre as esferas federal, estadual e municipal no que se refere à legislação e à redução dos tributos. "O governo tem que fazer com que os projetos fluam mais agilmente, de forma a uniformizar as edificações para facilitar as aprovações. Mas até tudo isso virar obra, todos os aspectos do pacote têm de ser azeitados. O setor espera com ansiedade que o atual conjunto de medidas se transforme em um programa duradouro", diz Watanabe.
Roberto de Souza, presidente do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), acrescenta que as legislações nas diversas cidades brasileiras são diferentes no que se refere a mercado imobiliário, por isso a importância de "uniformizar as legislações e assim montar uma indústria da habitação", afirma.
Souza lembra que ainda há muitas obras a serem entregues em 2009, já que o ciclo da construção varia de 36 a 42 meses, contando os trâmites para a compra do terreno. Esse panorama provoca, mesmo em pequena escala, contratações para o setor. "É difícil definir o futuro, porque houve, sim, retração de novos lançamentos e desmobilização de equipes. E isso pode criar um hiato a partir do segundo semestre de 2010 e início de 2011", explica. Ana Maria concorda. "O problema está sendo postergado para o ano que vem. Por isso, o pacote do governo é tão importante, é ele que pode reverter essa expectativa negativa e melhorar o nível de atividade", espera.
"Mas pelo menos, já é possível ver uma chama acesa durante a crise: os compradores estão menos assustados, o que significa uma possível retomada na compra de imóveis e a volta de todo o ciclo", comenta Souza.
Histórico
Entre 2001 e 2006, o mercado imobiliário crescia entre 5% e 10% ao ano, taxas consideradas "bem comportadas". Mas em 2007 o caldeirão explodiu e todo mundo foi beneficiado com uma alta de 50%, que se arrastou até agosto de 2008, quando mensalmente se atingia 20% de crescimento em relação ao mesmo período do ano anterior. Setembro, por sua vez, tomou uma anestesia. A diferença de países como Espanha e Estados Unidos é que no Brasil ainda se encontram demanda e crédito bom. Está certo que não com a mesma qualidade ou fartura, mas o País não é o centro do furacão, segundo João Crestana, presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP).
"Este ano vamos seguir uma reta mais comportada, devemos crescer 10% acima de 2006 e lançar 28 mil unidades. É bom lembrar que 2007 e 2008 são cartas fora do baralho, vai ser difícil repetir anos tão extraordinários quanto aqueles", diz Crestana. O presidente do Secovi-SP acrescenta que o segmento imobiliário voltado para as classes mais altas vão continuar tendo demanda, mas o nicho é bem pequeno e específico. A grande aposta, na verdade, fica com os empreendimentos voltados para classe média e média baixa que "são tremendamente carentes de oportunidades".
Para incentivar isso, o presidente Luís Inácio Lula da Silva propôs a construção de um milhão de casas em dois anos, o que Crestana acha possível e que o setor está preparado para o desafio. "O México produzia 700 mil unidades por ano. Por que não conseguiríamos? Não precisa ser exatamente um milhão, isso é uma meta. Se alcançarmos 800 mil em dois anos vai ser um resultado magnífico. Na hora em que os recursos estiverem prontos, o setor consegue se organizar e juntar mão-de-obra. Essa pode ser a solução para a Bolsa Família", completa o representante do Secovi-SP.

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