segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

''Nós vamos agarrar todas as oportunidades''

por Patrícia Cançado
Estadão
Estrategista típico, Sam Zell compara o Brasil ao México de alguns anos atrás e fala sobre seu investimento em mídia

O primeiro encontro de Sam Zell e o empresário Carlos Betancourt, hoje um de seus sócios no Brasil, durou apenas sete minutos. Antes que o brasileiro terminasse sua apresentação, Zell pediu que ele procurasse seus executivos em Chicago. Um ano depois, em 2006, os dois fundariam a Bracor, empresa que compra, constrói e administra imóveis comerciais e industriais. Zell e Betancourt viraram amigos, mas os encontros continuaram curtos e produtivos. O episódio revela um traço marcante da personalidade de Zell. Dono de uma objetividade desconcertante, ele é o típico estrategista. "Estou no lugar certo na hora certa, sempre atrás de uma situação onde a minha presença vai servir para alguma coisa", disse ao Estado, por telefone, o investidor, que é sócio de mais de duas dezenas de empresas. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Por que o Brasil é, na sua opinião, o melhor lugar do mundo para investir?
Em primeiro lugar, o Brasil tem escala. São 190 milhões de habitantes. É um país autossuficiente em energia. É politicamente estável. Acho que o fato de (o presidente) Lula ter tido tanto sucesso, apesar de ter vindo da esquerda, significa que o Brasil elegeu um esquerdista que os brasileiros amam. Ele governou sua economia de maneira conservadora e socialmente progressista. É uma combinação extraordinária de sucesso que serve de exemplo para toda a América Latina.
É possível comparar o Brasil com o México de alguns anos atrás?
Nós estivemos bastante envolvidos com o México. A diferença é que, no Brasil, há uma classe executiva que não existe no México. Nós estamos contratando gente no México, mas muitos voltam para trabalhar em negócios familiares. Enquanto no Brasil há muitos executivos talentosos e nós temos conseguido recrutá-los e temos nos dado muito bem. Os executivos que estão na Bracor (Carlos Betancourt), BRMalls (Carlos Medeiros) e Gafisa (Wilson Amaral) são de classe mundial e difíceis de achar em outro país.
O sr. pretende investir em outras áreas, como em infraestrutura?
A resposta para essa pergunta é: nós temos muito fé no Brasil e nós vamos investir. É um país maravilhoso, que tem recursos naturais, auto suficiência energética, é independente. E tem uma grande população que está em crescimento e vai ser um líder mundial no mundo emergente no futuro. Nós somos conhecidos mundialmente como investidores imobiliários. Mas a verdade que importa é que 70% dos nossos negócios não são no mercado imobiliário.
Eu não sabia.
No Brasil nós fomos acionistas majoritários do grupo GBarbosa, no Nordeste do Brasil. Vendemos a participação há cerca de um ano.
O sr. poderia detalhar seus planos para o Brasil?
Sou um profissional oportunista. Não faço planos, mas fico ligado nas oportunidades em que posso investir e ganhar. Eu não desejo ser limitado. Se tiver a oportunidade de investir em logística, shopping center, finanças, eu vou investir. O que posso dizer que nós vamos agarrar todas as oportunidades.
Metade do dinheiro da Equity International está investido no Brasil. O País continuará sendo o principal destino dos investimentos?
Eu volto para a mesma resposta que eu te dei antes. Nós somos oportunistas. A resposta é sim. Se as oportunidades estão no Brasil, nós estaremos lá para tirar proveito.
Qual a sua opinião sobre o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida?
Acho maravilhoso. Eu não poderia falar em detalhes, mas na ideia como um todo. Esse programa se expandiu pela classe média e a beneficia. Eu acho que vai ser fabulosamente bem sucedido no Brasil. O México tem um programa semelhante, que funciona muito bem. Ele é baseado no mesmo tipo de financiamento do Minha Casa, Minha Vida, que cabe no orçamento das pessoas.
O sr. vê algum risco de bolha no mercado imobiliário brasileiro?
Eu não vejo isso. Para ter um bolha, você precisa de financiamento ilimitado. É assim que nós chegamos a uma bolha nos Estados Unidos. E nunca houve financiamento ilimitado no Brasil. Então eu não acho que isso seja um problema real.
O sr. pretende investir em outras construtores residenciais, além de Gafisa e Tenda?
Eu não acho que vamos investir em outras companhias, mas nós devemos investir mais nessas companhias à medida que elas forem crescendo.
O sr. foi muito bem sucedido com os investimentos no mercado imobiliário nos Estados Unidos. Um de seus investimentos mais arrojados foi na Tribune Company, que publica o Chicago Tribune e o Los Angeles Times. Por que o sr. decidiu apostar nessa área?
Novamente, nós pensamos que poderia ser atraente e nós fizemos.
O sr. faria de novo?
Com certeza. Nós nunca achamos que fizemos a última transação. Depende do quanto as novas oportunidades possam ser corretas, boas.
Quando o Chicago Tribune deve sair da concordata?
Não sei, mas provavelmente nos próximos seis meses.
O sr. acredita que o mercado imobiliário americano está se recuperando?
Eu acho que está se recuperando, mas lentamente. Muitas coisas ainda vão acontecer.
Como o sr. divide seu tempo?
Eu sou um estrategista e estou no lugar certo na hora certa, sempre atrás de uma situação onde a minha presença vai servir para alguma coisa.
O que sr. faz nas horas vagas?
Ando de moto, esquio, leio, nado. Esse tipo de coisa me dá prazer.
E hoje em dia o sr. trabalha mais do que tem prazer ou isso está mudando?
Meu trabalho é meu prazer. Sempre um prazer.
Quantos anos o sr. tem?
Eu tenho 68. Sou um homem velho.

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